por Irineu Guarnier Filho, jornalista
No início deste ano fui à Paris para cobrir uma grande feira de máquinas agrícolas para o Canal Rural. Na minha última noite na cidade, decidi que não iria cedo para a cama. Após o jantar, resolvi bater perna por Montmartre - o bairro boêmio que um dia abrigou Picasso, Hemingway e uma legião de artistas da chamada Lost Generation.
O lugar continua lindo, mesmo sem os gênios da época em que se trombava com um Matisse ou um Joyce em cada esquina. Do alto da colina, em noite de céu claro, se tem uma vista espetacular de Paris. A intervalos intermitentes, o facho de luz giratório da Torre Eiffel ilumina os pequenos cafés ou a fachada da igreja do Sacré Coeur.
Na noite gelada de fevereiro, havia uma equipe de filmagem trabalhando nas escadarias da igreja. Uma loirinha espevitada, de minissaia jeans, botinhas e cachecol descia as escadas sorridente, era acolhida por um galã cabeludo e conduzida pela mão a um majestoso Bentley conversível. Havia muitos técnicos, fotógrafos, refletores e uns poucos curiosos em volta naquela hora, perto da meia-noite. O casal posava para fotos.
Sempre fui fã do cinema francês, e assistir a uma filmagem em Paris foi um belo golpe de sorte. Mas logo me cansei da repetição interminável daquela cena e decidi caminhar pelas ruelas do bairro. Ao me aproximar de uma esquina escura, sou abordado por uma garota. Ela estaca na minha frente e me diz algo na língua de Balzac. Com meu francês de ginasiano, entendo que se trata de um convite para conhecer algum restaurante do bairro - ou algo mais divertido... Agradeço e sigo em frente. Ela sai atrás de mim, me chama. Quando estou virando a esquina, ainda a ouço dizer, desolada, algo assim como "Ces't un filme, monsieur"... Mas já é tarde: dou de cara com dois refletores imensos. Estou dentro de uma cena de um filme.
Alguém manda parar a filmagem com uma expressão malcriada compreensível em qualquer língua. Recuo rapidamente e me desculpo com a moça, do jeito que posso. Ela balança a cabeça, corrige meu francês capenga e bufa. Acho que havia mais de um set de filmagem em Montmartre naquela noite... Ok, foi mal. Mas tive meus 15 segundos de fama em Paris.
** texto publicado no Blog do meu colega Irineu Guarnier Filho. Meu colega Cristiano Dalcin me encaminhou por e-mail, e eu resolvi publicar aqui também. Os dois são ótimos contadores de histórias e assim como eu, estiveram em Paris recentemente. Somos três apaixonados pela cidade e adoramos conversar sobre os encantos que a Cidade Luz proporciona aos turistas.
Um comentário:
Hehehe, bela história.
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